Sem autocrítica o PT afundará não apenas a si, mas o país
O PT tem que ser criticado todo dia. E tem que fazer autocrítica. A única forma do PT não afundar o país junto com eles é assumir seus erros na campanha. As pessoas tem ódio do PT exatamente pela insistência do partido em apontar dedos e tirar o deles da reta.
O PT vai perder se não fizer qualquer autocrítica. Vocês tem conversado com eleitores que chamam nulo ou votam no Bolsonaro? Conversem com eles.
Com os que falei, eles repudiam a falta de autocrítica do partido que segue defendendo bandidos de estimação e se recusam a reconhecer qualquer erro. Responsabilidade histórica é o PT parar de negar sua responsabilidade no crescimento do Bolsonaro pela sua insistência em se achar acima de tudo é todos.
PT é odiado. E não falta petista que defenda que o partido siga ignorando as razões pelas quais é odiado. Autocrítica é a única forma de lidar com as razões do ódio e diminuir a rejeição. A maior parte do país está votando contra a corrupção (independentemente de fazer sentido ou não ter no Bolsonaro um exemplo de honestidade). O PT é visto não só como corrupto, mas como partido que tem ORGULHO disso. Se autocrítica em relação a isso não faz diferença então nada mais faz…
O Magnoli (sim, acreditem), escreveu um texto impecável exatamente sobre essa questão:
DEMÉTRIO MAGNOLI
“A carta que Haddad não escreverá”
O Datafolha mostrou que a democracia é um valor fundamental para 69% dos brasileiros. Dirijo-me a essa ampla maioria para pedir um voto contra o autoritarismo. O Brasil experimentou uma ditadura militar de 21 anos. Eleger meu adversário seria colocar no governo um grupo de saudosistas da ditadura que testarão a resistência de nossa democracia. Minha candidatura tornou-se a única alternativa a isso. O segundo turno não pode ser um plebiscito sobre Lula ou o PT, mas um plebiscito sobre as liberdades públicas e individuais.
Verde-amarelo no lugar do vermelho? O marketing não substitui a política. Hora de assumir erros históricos, falar a verdade. O PT dividiu o país em “nós” e “eles”. Isso acaba aqui. Não qualificarei como “golpistas” os que defenderam o impeachment, a quem também peço o voto. Nunca mais usaremos o rótulo “fascistas” para marcar os que divergem de nós. Não mais usaremos o rótulo “racistas” para marcar os que discordam de políticas de cotas raciais. Adotaremos, perante a sociedade, o “protocolo ético” que meu adversário rejeitou. A pluralidade de opiniões é a substância da democracia. De agora em diante, nós a respeitaremos.
Democracia exige coerência. Lula respeitou a regra do jogo democrático ao não buscar um terceiro mandato sucessivo. Mas, reiteradamente, o PT ofereceu apoio ao regime ditatorial em Cuba, à ditadura instalada por Maduro na Venezuela, à escalada repressiva de Ortega na Nicarágua. Jamais concordei com isso, que acaba agora. Não cultivaremos ditadores de estimação. O Brasil defende a democracia aqui e lá fora. Na China e na Arábia Saudita, na Rússia e na Turquia, em Cuba e na Venezuela.
Nas democracias, uma fronteira separa as esferas da política e da Justiça. Todos, inclusive eu, têm o direito de concordar ou não com decisões judiciais — mas os partidos e, sobretudo, o governo, não têm o direito de misturar as duas esferas. Lula está recorrendo aos tribunais superiores contra sua condenação. Meu governo não se envolverá nesse assunto e não o politizará. Sem independência do Judiciário, não existe democracia.
A imprensa livre é um pilar imprescindível da democracia. Trump, lá, e meu adversário, aqui, clamam contra o jornalismo profissional, enquanto seus seguidores difundem falsificações por meio de empresas oligopolistas da internet. Mas é preciso olhar nossa imagem no espelho. Durante anos, o PT pregou o “controle social da mídia”, como se a crítica, justa ou injusta, precisasse ser restringida. Chega dessa ladainha rancorosa. Difamação, injúria, calúnia são assunto para os tribunais. Fora disso, o “controle da mídia” deve ser exercido exclusivamente pelos leitores, espectadores e ouvintes, ao selecionarem os veículos de sua preferência.
Todos têm direito à ampla defesa. A caça às bruxas sempre foi ferramenta de tiranos ou pretendentes a tiranos. Mas não existe uma “corrupção do bem”. A “nossa” corrupção é intolerável, tanto quanto a dos outros. Os governos do PT têm pesada parcela de responsabilidade política pelos escândalos do mensalão e do petrolão. No meu governo, protegeremos os recursos públicos da sanha de corruptos de qualquer partido, inclusive do meu.
A economia não é um fim em si mesma: serve para as pessoas escaparem ao círculo da pobreza, viverem melhor, realizarem seus sonhos. Mas isso só ocorrerá de forma sustentada se recuperarmos o equilíbrio das contas públicas. A depressão dos últimos anos foi semeada pela irresponsabilidade fiscal do governo Dilma. Aprendemos a dura lição. Não repetiremos o erro desastroso, fonte última da crise que redundou no impeachment.
A disputa não é entre dois extremistas simétricos. Hoje, só há um extremista: meu adversário, que usa a democracia como plataforma para iniciar uma aventura autoritária. Derrotá-lo não é escolher o PT, mas escolher a democracia.
Demétrio Magnoli
Sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.FSP 13.10.2018
Os petistas deveriam estar implorando por votos e agradecendo, humildes, pelos que tem e conquistam. Deveriam, mas fazem justo o contrário. A falta de autocrítica é a causa: Se recusam a aceitar que erraram e erram e acham que são pobres perseguidos que merecem os votos de “traidores” e “golpistas” porque representam o que há de melhor.
Na realidade o PT é um partido horroroso, corrupto até a medula, cujo desaparecimento seria uma das melhores coisas que poderia acontecer ao país… Mas que NESSE MOMENTO é o que temos diante de um governo fascista de Bolsonaro, cujos seguidores tem tocado o terror nas ruas agredindo e até matando.
O PT é meramente a opção que restou. É ruim, mas ainda assim é menos pior que o fascismo.
O Bernardo Jurema captou bem a situação:
“É totalmente possível ter muita raiva do PT, entender que o PT e seus dirigentes têm boa parte de responsabilidade pela situação terrível em que o país se encontra, que são um bando de irresponsáveis E AO MESMO TEMPO entender que o bolsonarismo é mais que uma ameaça, já é uma realidade no Congresso e nas ruas, que representa um outro patamar de violência. Não são duas ideias excludentes. Não deixe que o seu antipetismo o cegue a este fato. Sobretudo porque as vítimas do bolsonarismo, como sempre, serão (já são) os mais vulneráveis.”
Mas os petistas pensam diferente. Se acham bastiões da democracia, corretos, do lado certo da história. E enquanto mantiverem essa atitude estarão fadados a perder. E a levar o país com eles.
Como escrevi recentemente no Facebook:
Olha a autocrítica aí gente! Você tava nas ruas tomando pau da polícia enquanto os petistas gritavam VAI PM? Então você é fascista que odeia o PT pelo lucro histórico dos banco… Ops, pelos bilhões de isenção pro empresa… Ops, pelas conquistas destruídas por Dilma! Não, espera, não está certo…
Sabe o que eu já disse, que se o PT quiser ter alguma chance tem que descer do salto alto e IMPLORAR por votos? Parece que gênios como o Emir não entenderam isso e seguem achando que tem moral pra falar um “a” sobre alguém (https://is.gd/a1Cs6l).
Eles entendem tanto da realidade e do mundo que os certa que tem petista “nossa, PSTU e a turma antipetista está apoiando Haddad contra o Bolsonaro”… Pois é, é que diferentemente do PT, a gente não acha que “segundo turno ideal” é com o Bolsonaro e nem colocamos nossos interesses na frente dos do país.
A irrealidade (https://is.gd/lGeYlX) em que vivem os petistas é uma coisa assustadora.
Alguns exemplos lamentáveis:
PS: O texto nasceu desta postagem e dos debates nos comentários. É uma crítica ao posicionamento do Carlos Tautz, mas não um ataque contra sua pessoa.