O que Kéfera fez pelo feminismo hoje?
Por alguma infelicidade da vida, chegou até mim um vídeo da Kéfera (que, também por alguma infelicidade, eu sei quem é. Não sei porque sei, mas sei) tentando lacrar com seu feminismo de facebook na Globo.
Alguém teve a brilhante ideia de convidá-la para debater sobre feminismo e o fato dela ser mulher parece ter sido suficiente para torná-la autoridade no tema. Pior, ela parece concordar.
Enfim, temos um programa (da Fátima Bernardes) em que houve um debate sobre feminismo e em dado momento a plateia foi convidada a se manifestar, perguntar comentar. Eis que um rapaz resolve contar sua experiência pessoal de contato com a vertente mais mainstream do feminismo, a lacradora (conhecida também como feminismo de facebook).
Essa vertente, ao qual a tal Kéfera é visivelmente filiada, se contenta com calar a boca, censurar e gritar slogans. E só. E em boa medida ajuda a explicar o surgimento de grupos que deram força ao Bolsonaro no melhor estilo alt-right (e com uma ligação carnal com o PT, como já comentei aqui, mas é outro assunto).
Pois bem, o rapaz resolveu contar sua experiência, ao que foi prontamente interrompido pela grande representante do feminismo (cujos méritos são ter um canal em que fala besteiras no Youtube e participar de programas de TV de gosto duvidoso) para ser acusado de “mansplaining” porque estaria, segundo ela, tentando explicar feminismo para ela.
Oras, pra começo de conversa, o feminismo enquanto um conjunto de ideias não tem “titular”. Como disse o Bruno Frederico Müller:
“O feminismo é um sistema de ideias. Ideias se apreendem com o cérebro, não com os genitais. Daí que é perfeitamente possível sim um homem entender mais de feminismo que uma mulher.”.
É perfeitamente possível que um homem tenha vasto conhecimento sobre feminismo enquanto teoria. Claro, outra coisa é ter conhecimento sobre o feminino (ou sobre o que é ser mulher, seus problemas, dores, etc), aí realmente não há debates. No entanto quando falamos de uma área de conhecimento… A coisa muda de figura.
Mas vamos adiante.
Ele, coitado, tentou retomar o argumento, ao que foi prontamente acusado de “manterrupting” — com direito àquele sotaque americano forçado pra ficar mais chique e conquistar mais likes.
O problema é que ELA o interrompu (junto aos gritos histérios da plateia altamente qualificada), ele meramente tentou se explicar. Mas como para essa vertente lacradora se a mulher e o homem falam ao mesmo tempo (ou se o homem começou, ela interrompeu e ele tenta seguir adiante) o homem tem que imediatamente se calar porque, não sei, mulheres talvez não sejam capazes de elevar a voz e se impor (mais uma característica fundamental dessa vertente, a vitimização e infantilização da mulher, tornada incapaz) ou simplesmente de esperar quem foi interrompido de fato (ele) terminar de falar.
Conceitos como “lugar de fala”, “mansplaining”, “Manterrupting” e outros semelhantes são instrumentos usados por militantes para calar a boca e censurar críticas (ou nem críticas, meros comentários, dúvidas, ideias). É um obscurantismo tremendo.
Sem dúvida tais conceitos até podem, com muita boa vontade, servir para ilustrar algum debate acadêmico, alguma coisa abstrata, uma forma de criar nomes para comportamentos potencialmente ou supostamente corriqueiros e ter categorias de análise, enfim. Mas não servem, de forma alguma, para serem jogados como instrumentos de censura por gente sem capacidade de dialogar.
Trago novamente o Bruno:
“Evocar lugar de fala e “mansplaining”, como fez Kéfera no programa da Fátima Bernardes, demonstra apenas sua estupidez, ignorância e autoritarismo. Ela tentou ganhar o debate no grito, por meio da intimidação e do recurso à autoridade (concedido pelo acidente biológico de ser mulher). Só ganhou porque a plateia era tão estúpida quanto ela e já estava disposta a com ela concordar, apesar da sua completa falta de argumentos.”
Esses conceitos são, como disse o Thiago Faria Melo, a versão lacradora da falácia do ad hominem. E discutir feminismo tendo Kéfera como modelo… SENHOR!
No fim o cara foi calado, silenciado. Não pôde se expressar, se tinha dúvidas irá continuar a tê-las, e agora ainda pode se considerar humilhado em rede nacional pelo crime de tentar se expressar (sem ofensas, sem preconceito) e questionar. Alguém acha que o feminismo ganhou um aliado hoje?
Como só o humor salva, o Gustavo Des mandou o diálogo na íntegra:
- Eu acho justo a mulher lutar pelo mesmo salário, no entanto (interrupção)
- Você está errado. O que você diz é desnecessário. É o mansplaning, explicar pra mulher o que ela já sabe.
- Não, eu só queria dizer que (interrupção)
- Agora você incorre do Manterrupting, quando um homem interrompe uma mulher.
- Mas foi você quem (interrupção)
- ora ora ora, vejo que tens um pênis, portanto, deveria respeitar o lugar de fala.
- Então tá
- agora você se utiliza do coitadismoplaning, que é quando um homem se vale do coitadismo pra apresentar a mulher como uma megera.
- A (interrupção)
- Agora você incorre do artigodefinidoplaning. Que é o uso da letra ‘a’ com a finalidade de introduzir uma oração que eu não vou deixar você concluir por ser homem.
- (silêncio)
- Agora o mutesplaning, ficar mudo pra não responder uma mulher.
- (homem abandona o palco)
- Hey, volta! Tão vendo isso, gente? Abandonosplaning
Pra quem quiser sofrer, o vídeo: