‘Justiceiros sociais’, o triunfo da vontade e da intolerância

A certeza, hoje, no Brasil, é de que tais “coletivos” e atitudes SJW’s deixaram a internet e começam a tomar conta de amplos setores da esquerda. É preocupante. Mas é importante deixar uma coisa clara: Precisamos do movimento feminista e do feminismo, precisamos do movimento negro e do movimento LGBT. Precisamos de militância social que defenda minorias, que lute por direitos (humanos). Mas o que não precisamos é que pessoas com claros problemas psicológicos e comportamentais sequestrem tais movimentos e o usem para pregar ódio ou fazer propaganda política mal disfarçada.

Raphael Tsavkko Garcia
13 min readNov 27, 2020

Há muito tempo eu e outros ativistas e defensores dos direitos humanos alertamos para o perigo do crescimento dos chamados “Social Justice Warriors (SJW)” (Guerreiros da Justiça Social, em tradução livre), os fanáticos que se comportam como seita em “movimentos identitários” dizendo defender causas sociais, mas que se limitam a buscar holofotes e a espalhar ódio — ao mesmo tempo em que prejudicar diversas causas ao afastar aliados e transformar a todos em inimigos.

Estes movimentos são chamados por alguns de pós-modernos, por outros de “identitários”, ou mesmo de “justiceiros sociais” mas no fim são apenas “odiadores profissionais”. Nos EUA, existe um movimento muito forte, em especial nas universidades. Mas, no Brasil, este tipo de manifestação é um fenômeno recente que adota linguajar e maneirismos importados que, na maioria das vezes, simplesmente não se encaixam na realidade brasileira (na verdade não se encaixa em lugar/realidade alguma. Mas não importa). É preciso deixar claro que esses “ativistas” querem holofote e farão tudo para atacar o trabalho e a militância alheia e jamais buscam construir. Dialogar é impossível para e com este pessoal.

As gerações

A turma de 18 a 30 anos (ou um pouco mas e um pouco menos) faz parte da geração millennial (que alguns chamam de “geração cry baby”). Esta é a turma pós anos 80–2000. Eles tendem a ser mais “frágeis”, a precisar dos chamados “safe spaces”, a não aceitar nada que os contradiga ou “ofenda”. Mas o problema é que quase tudo os ofende.

Essa mentalidade vem de um lado pela ausência de conflitos significativos (EUA, Europa) e pela estabilidade financeira do fim do milênio passado e começo desse. É, em geral, uma geração que enfrentou poucos problemas em meio a um período de crescimento econômico e relativa paz (notem o “relativa”), então acabou por voltar-se a outras questões de cunho mais pessoal/personalista e micro-lutas que acabaram por ser entendidas de forma independente de grandes lutas.

Em outras palavras, a luta contra o racismo ou pelos direitos das mulheres passou a ser compreendida não como o desdobramento ou continuação de grandes lutas, mas como algo isolado, um fim em si mesmo. Não se trata de compreender, por exemplo, o capitalismo como parte do machismo, o colonialismo como parte do racismo, mas tais compreensões amplas acabaram por ser sufocadas dentro da própria esquerda.

O enfraquecimento do socialismo também tem a ver com a situação, pois é o marco inaugural do tempo das pequenas lutas e não mais de grandes lutas (retomarei adiante essa ideia, buscando explicar o Brasil).

Se antes tínhamos a ideia de que com o fim do capitalismo questões “menores” como racismo, homofobia, machismo e etc se resolveriam (como por mágica), hoje temos o contrário. De um radicalismo (boçal) pulamos a outro (igualmente boçal), em que muitos acreditam que superando estas questões iremos, então, derrubar o capitalismo (isto, claro, vale para alguns grupos mais alinhados à extrema-esquerda).

Construir e desconstruir

Qualquer tentativa de diálogo encontra um muro de chavões e palavras de ordem vazias, como “lugar de fala”, “protagonismo”, “apropriação cultural” — são termos que historicamente tem validade, mas foram esvaziados ao ponto da neutralização de seu valor — ou o uso de termos como “branco” e “homem” (ou melhor, “omi”) como se fossem pejorativos. Ao invés do combate das razões pelas quais algumas categorias são consideradas “normais” ou a norma, a ideia é combater pessoas. Um branco racista não é problemático apenas por ser racista, o é por ser branco. O homem machista, da mesma forma, não é problema por ser machista apenas, mas por ser homem. É uma lógica da qual não se pode escapar, mesmo que alguns fundamentalistas da justiça social ainda concedam a possibilidade de “desconstrução” — sempre com limites insuperáveis.

O “justiceiro social” nunca está satisfeito e sempre encontrará defeito, porque senão ele se torna obsoleto. Precisam gritar contra algo e se tornam simplesmente chatos — para dizer o mínimo. São aquelas pessoas que tem no fato de discordar uma forma de obter prazer, daí o uso constante de termos como “lacrar”. Não importa se o argumento é válido, mas sim a sensação de ter vencido e “lacrado”. Não adianta o que você faça, já decidiram que você está errado. É bom repetir, eles não querem que qualquer situação efetiva de exclusão acabe ou se resolva. Se a situação se resolver acaba o palanque deles. São sanguessugas que querem manter tudo como está.

A ideia central desses movimentos é a de viver em guetos auto-impostos. Negam sequer a solidariedade. Se você não for do grupo, você é inimigo. Tudo é “construção social”, mas mesmo assim o opressor, o inimigo, é algo inato.

Vivência, coletivismo e individualismo

Ambientes universitários que deveriam ser espaços de diálogo e mesmo de alguns conflitos de ideias acabam sendo “murados” e tendo qualquer debate interditado por grupos fanatizados que apenas gritam e impedem qualquer tipo de discussão ou mínima discordância. Quanto menos se discutir, melhor. Os inimigos serão crucificados, escrachados e linchados; os amigos — desde que sigam na linha — serão “lacradores”, “divas”.

Curiosamente a tese coletivista central de tais grupos abre espaço para dinâmicas individualistas que sustentam a estrutura. “Vivências” individuais daqueles ou daquelas que posam de líderes (em geral as pessoas que mais gritam) são ressignificadas e transformadas em regras pétreas do coletivo ao mesmo tempo em que outras vivências são apagadas, subtraídas e eliminadas sob pena de exclusão do grupo. São um indivíduo-coletivo cartesiano organizados em geral em “coletivos” que muitas vezes são compostos por 2 ou 3 pessoas que acreditam ser e falar pela multidão — mas que em geral invisibilizam a multidão e seus problemas, silenciando a diversidade e impondo um conjunto de regras de comportamento e uma visão do mundo estreita e muitas vezes contraditórias.

“Pois é, a questão é que nenhuma pessoa deixou de morrer por causa da sua cultura de alta vigilância e punição. A única coisa que isso tem conquistado é o afastamento de jovens do pensamento de esquerda, já que se eles souberem o que é bom pra eles, deveriam ficar bem longe desses ambientes, mesmo”, escreve Henrique Guilera no Medium.

E, muitas vezes, tais regras e diretrizes não são apenas estúpidas, mas chegam a incitar excessos. Na tentativa (correta) de criticar padrões impostos pela mídia, alguns grupos acabam propondo novos padrões que não apenas não são saudáveis, como também são apenas novos padrões. Padrões impostos por outro grupo que tem o objetivo de se estabelecer como norma. É óbvio que é necessário combater padrões irreais midiáticos, mas de nada adianta tal luta se o objetivo é impor outra ditadura de sinal trocado.

Dialogar a partir de si esbarra, portanto, em um discurso fixo, regrado. Discurso esse que não atende às narrativas de muitas travestis que estão fora da militância. Além disso, o discurso é de tal modo fixo que não se abre a críticas ou ao dissenso, tampouco a outros locais de fala. Nesse sentido, homens não podem falar sobre feminismo, ainda que esses também tenham sido marcados pelas normas de gênero. , escrevem Helena Vieira e Sofia Favero, para a página Travesti Reflexiva

As lutas perdidas e corrompidas

O branco deve apoiar a luta dos negros, mas não pode falar nada, tem que estar ali como estátua, manequim. Não pode falar, não pode opinar, não pode nada. O homem é sempre estuprador e pedófilo. A mulher deve fazer o que quiser com seu corpo, mas “ai” da mulher que resolver mostrar seu corpo (e do homem que quiser ver). Pornografia é estupro, prostituição é estupro. É uma mistura de libertação com puritanismo. Deve-se seguir as regras do grupo, o corpo é político, serve para os propósitos da realização dos objetivos do coletivo, não pertence à mulher, pertence à causa. Não surpreende que muitas que falem “meu corpo, minhas regras”, mas xinguem mulheres que posam nua, porque é para o “prazer do patriarcado”. O “minhas regras” passou a ser a regra do coletivo iluminado.

O negro que tem amigos brancos é o que se submeteu à Casa Grande, o negro que namora com uma branca é “palmiteiro”. Todo hétero é homofóbico ou transfóbico. E por aí vai. A “vivência” (ou aquilo que é pinçado desta) torna-se uma catarse coletiva que ao fim mata a individualidade e o direito de escolha. Isto, claro, quando determinados “coletivos” não partem também para negar a ciência aos gritos de “Vivência é mais que Ciência”.

Não, você não está preocupado com resolver a injustiça social, você está preocupado em se tornar uma figura popular, em agredir aqueles que são menores que você, dentro do seu ambiente, para demonstrar dominância. Os delírios que nós carregamos para sustentar nossa negação da realidade podem ser ótimos se nos ajudam a dormir com tranquilidade, mas quando se ignora que eles são delírios, quando nossa voracidade por grandeza e pelo estatuto angelical prejudicam os outros, aí isso deveria começar a ser repensado. Sim, exatamente como atitudes opressoras deveriam ser repensadas. Se você inverte a lógica do opressor para que ela contribua com o seu sentimento de potência, bem, você não é melhor do que ele. Se você destrata e subjuga as pessoas inferiores hierarquicamente na sua faculdade de humanas, talvez você não esteja assim tão interessado em ser “do bem”, escreveHenrique Guilera, no Medium.

Existem graus de fanatismo? Sem dúvida. Vai do simples “homem não deveria participar dos protestos contra estupro porque ‘rouba protagonismo’ das mulheres” ao “tem que matar todos os homens”, para ficar apenas no feminismo, mas tal boçalidade travestida de militância é encontrada facilmente em outros movimentos com maior ou menor intensidade.

As origens no Brasil

Os “justiceiros sociais” são uma importação dos EUA onde “esquerda” é sinônimo de “liberal”. Os direitos humanos são eminentemente liberais, prezam pelos direitos individuais, enquanto a esquerda clássica fora dos EUA tende a ser coletivista. A neo-esquerda, pós-moderna, tenta agregar (e falha) o coletivismo com os direitos humanos. Não que tal casamento não seja necessário, é, mas a forma é uma lástima.

No fim os direitos individuais passam a pautar o coletivo de uma forma absolutamente negativa. A “vivência” individual passa a pautar ações coletivas, mesmo que diferentes vivências sejam completamente contraditórias entre si e não façam o menor sentido quando no coletivo. Substitui-se a compreensão coletiva de fenômenos por visões de pseudo-lideranças iluminadas com vivências que são admiradas pelas e pelos seguidores. Isso leva à negação da ciência (Vivência > Ciência) e do próprio sentido de vida em sociedade, pois cria uma visão de que todos são inimigos até que aceitem que a “vivência” de alguém — transformada em coletiva — é explicação para todos os males da sociedade e aderir ao culto, ou melhor, ao “coletivo”, é a única forma de se alcançar o objetivo final (que pode ser até a revolução).

Como já comentei, o princípio dos justiceiros é abandonar as grandes lutas, as grandes narrativas, pelas microlutas (contra micromachismo, microagressão, etc) e, enquanto movimento importado dos EUA, foi ressignificado dentro do governismo/petismo e aí tomou força.

Movimento social deve ir muito além do sujeito. É a partir desse reconhecimento que aquilo que machuca a um também atinge a todos, deslocando a agressão para o coletivo. Caso não seja assim, os considerados opressores continuarão em seus lugares confortáveis e tranquilos, afastados de toda a discussão que poderia transformá-los em aliados. Não é isso que eu quero, embora seja exatamente o que vejo sendo feito. Esse medo de perder o poder ainda vai custar caro para as causas, uma vez que os ditos protagonistas não clamam mais por diálogos, mas sim por monólogos.

Esse movimento identitarista não vem do nada, repito, ele é anterior ao governismo fanático (nos EUA é muito mais antigo), mas tomou corpo e ganhou força com o petismo e, em especial, pós-2013, o que reforma sua ligação carnal com o governismo e com o PT. Ambos se retroalimentam, por mais contraditório que pareça — já que o governismo em geral promove o contrário do que, em tese, tais grupos defendem. O ponto central para entender o raciocínio deles é que o interesse real é o de que grandes lutas não avancem, o que os faz casar perfeitamente com o PT, que abandonou toda e qualquer luta histórica da esquerda e substituiu por um pastiche, por uma colcha de retalhos de paliativos. A união destes dois é confortável.

O abandono de grandes narrativas serve aos interesses do PT, que não é incomodado, deixando pequenas lutas, muitas vezes meras picuinhas, para serem “tratadas” pelos justiceiros. É o espaço que resta, é o confinamento de movimentos sociais. No fim, esta aliança de ocasião serve aos interesses imediatos de ambos. Isso vem junto com o consumismo impulsionado pelo partido. A meta é criar mercado consumidor, é garantir poder de compra, logo, o cidadão passa a ser mero consumidor e, como sabemos, o consumidor tem sempre razão. Nisto, acaba não sendo confrontado e a lógica mercadológica avança.

Não surpreende que diante de um dos governos mais homofóbicos e que menos fez pelos direitos das mulheres e que se aliou com todos os fundamentalistas religiosos e arautos do atraso possíveis, não faltem “coletivos” LGBT’s e feministas que balançam com orgulho a bandeira do PT e atacam quaisquer críticos. Qualquer pequeno ganho é uma vitória, porque se contentam com o micro, com o que pensam possível. Sempre que há um mínimo aceno para tais grupos, a alegria volta a reinar e a defesa do partido e do governo se fortalece.

Mas é bom deixar claro, não é que o identitarismo seja cria do governismo, mas ele tomou corpo, ganhou força com o governismo, com o PT no poder. Pelo que se pode traçar, começou no feminismo, e desembocou nas RadFem (ou por quem sequer se designa assim, mas se comporta de forma semelhante, ou seja, com ódio). Uma famosa blogueira feminista conhecia mais por escrever que por correr ou calcular o efeito de suas postagens foi das primeiras a adotar linguagem RadFem — sem ser uma -, depois vieram outras menos estreladas, mas ainda mais radicais, até finalmente contaminarem o movimento negro e o LGBT. Hoje temos Absolutas da vida e versões mais ou menos palatáveis desta figura em sua incansável luta para provar que negros não podem se relacionar com brancas, dentre outros absurdos, em substituição de agendas reais.

Seguem os ataques e amplia-se o abismo

Você dificilmente encontrará justiceiros destacados ao lado de movimentos sociais estabelecidos que lutam por pautas amplas (como as Mães de Maio, por exemplo), estão preocupado/as demais em gritar que alguém no Facebook é “palmiteiro” e “traidor da raça”, ou mesmo em usar o recurso do “mulato/mestiço de schrodinger” sempre que pareça conveniente.

Um exemplo prático?

Lembram quando o padre Fabio de Mello escreveu sobre seu encontro com a travesti Luana Muniz?

Ele admitiu preconceito anterior, reconheceu seu erro, fez questão de pregar tolerância em sua igreja e para milhões de pessoas. Mas cometeu o erro de usar o gênero incorreto para se referir a Luana. Foi apedrejado. Ele chegou inclusive a reconhecer o erro, afinal, ele não conhecia o linguajar (como muitos até hoje falam GLS e não LGBT, ou “homossexualismo” ao invés de homossexualidade), mas virou inimigo jurado de ativistas fanatizados mais preocupados em atacá-lo por um erro ínfimo diante da grandeza de sua atitude e do poder que ele tem enquanto aliado de uma luta.

É por isso, entre outras coisas, que algumas pessoas estão abandonando a esquerda — e cada vez mais pessoas vão abandonar, podem acreditar. É um ambiente tóxico. Os americanos chamam isso de call-out culture: a cultura de denunciar publicamente falas ou comportamentos considerados opressores. Para abrasileirar, podemos chamar de “cultura da rachação”. A cultura da rachação não se trata de uma conversa privada que estabelece um diálogo sobre a legitimidade ou falta dela em determinada atitude, mas de uma exposição pública de uma falha de caráter imperdoável.

Casos de ataques e agressões se multiplicam. Há algum tempo, o mundialmente famoso antropólogo Eduardo Viveiros de Castro foi atacado porque, branco, ousaria falar em um evento sobre o pensamento indígena.

Antropólogos não poderiam falar por indígenas, isto seria “roubar protagonismo”. Devemos abolir a antropologia e a ciência como um todo. Irônico que um dos revoltados não era… indígena, mas ousou falar por eles, desautorizar por eles. Coisas da vida. Antes, o ativista e artista Rafucko foi atacado por expor sobre a violência contra os moradores da periferia, contra negros e contra as Olimpíadas, fazendo um link entre violência, mercado e grandes eventos.

Não apenas foi atacado nas redes sociais, mas foi agredido verbalmente aos gritos de “racista” por uma turba insandecida que chegou a declarar que brancos e negros seriam de espécies diferentes. Que ninguém ouse falar em turbantes, “ativistas” irão, coléricos, buscar apagar metade da história da humanidade para tentar provar que é racismo e “apropriação cultural” o uso de tal indumentária por um não-negro. E é sempre bom lembrar, todo homem é estuprador em potencial, todo branco é racista e todo hétero é homofóbico e ser obeso é lindo e sempre saudável. E, claro, tudo não passa de construção social — mas apenas para minorias, porque o resto vem, de fábrica, estragado.

Caso mais recente é o da ex-pré-candidata a vereadora Eloisa Samy (PSOL). RadFem (Feminista radical, o que em termos gerais significa que odeia homens e transsexuais e muitas vezes pregam “lesbianismo político” e se opõem à pornografia e à prostituição com argumentos que fariam qualquer defensor da TFP corar), Samy desatou a atacar no Facebook ativistas trans, em especial a Daniela Andrade, e, felizmente, teve sua candidatura impugnada pelo próprio PSOL — o que a fez convocar sua militância radical e boçal para atacar o partido — o que apenas beneficia… o PT.

Estamos criando, além disso, uma geração de pessoas incapazes de lidar com a realidade. Alguns propõem trigger warning pra obras de arte. Porque algum desavisado pode ficar ofendido e não saber lidar com uma imagem “perturbadora”. Lembram o que comentei sobre a geração millennial logo no começo desse artigo? Ouço colegas e conhecidos comentarem que vivem com medo em universidades de cair nas redes de “coletivos” de SJW que só sabem gritar, professores (nos EUA especialmente) com medo do que podem falar para não ofender os “sensíveis”. Os justiceiros sociais querem se enterrar em safe spaces, se isolar da realidade, que não é nem fácil e nem bonita e, no meio tempo, buscam forçar todos ao redor a pensar como eles, a se comportar como crianças mimadas como eles.

A certeza, hoje, no Brasil, é de que tais “coletivos” e atitudes assim deixaram a internet e começam a tomar conta de amplos setores da esquerda. É preocupante. Mas é importante deixar uma coisa clara: precisamos do movimento feminista e do feminismo, precisamos do movimento negro e do movimento LGBT. Precisamos de militância social que defenda minorias, que lute por direitos (humanos). Mas o que não precisamos é que pessoas com claros problemas psicológicos e comportamentais sequestrem tais movimentos e o usem para pregar ódio ou fazer propaganda política mal disfarçada.

Texto originalmente publicado no The Huffington Post, em 14/10/2016. Resolvi trazê-lo pra cá porque o HuffPost encerrou suas atividades, além de por seu valor histórico e por ter sido um dos primeiros textos longos a tratar do tema.

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Raphael Tsavkko Garcia

Journalist, PhD in Human Rights (University of Deusto). MA in Communication Sciences, BA in International Relations. www.tsavkko.com.br