Comitês de Defesa da República: Se a ETA não existe mais, a Espanha fabrica um novo inimigo
Nove membros dos Comitês de Defesa da República (CDR) foram presos hoje pela polícia espanhola em mais uma tentativa de intimidar e criminalizar o movimento soberanista catalão às vésperas da sentença dos 12 presos políticos que muito provavelmente serão condenados à pena máxima por exercerem suas prerrogativas e seguirem a vontade popular dos catalães e respeitarem a democracia.
São 9 pessoas cujos crimes são os de defender o direito à autodeterminação do povo catalão e que não cometeram crime algum, mas são acusados de possivelmente quererem cometer, no melhor estilo Minority Report.
Se trata da repetição da lógica usada por décadas no País Basco de “tudo é ETA”. Sob essa lógica partidos foram ilegalizados, dezenas de pessoas foram torturadas, jornais foram censurados e fechados (o Gara hoje corre o mesmo risco). Provas das acusações são mero detalhe, um detalhe insignificante e raramente surgem, não são necessárias para um judiciário franquista que não entendeu que Franco morreu.
Não surpreende que a ditadura turca use a Espanha como modelo para reprimir curdos impunemente. Além dos acontecimentos já citados, temos também por começar mais um processo-farsa contra ativistas bascos.
47 ativistas de organizações bascas diversas, além de advogados de presos políticos e mesmo jornalistas e psicólogos serão julgados esse mês acusados de fazer parte de uma organização, ETA, que não existe mais. Esse é o nível a que chega a Espanha para tornar-se ditadura. O desejo da Espanha em retornar ao franquismo é mais forte do que quaquer coisa.
O fato da ETA não existir não importa para a “justiça” espanhola, vide o caso dos jovens de Altsasu condenados em 2017. Assim como há algum tempo tentam criar uma nova ETA na Catalunha, os CDR.
Ano passado o ativista Adrià Carracos foi ao exílio e outra, Tamara Carrasco, foi impedida de deixar sua cidade. Ambos acusados de terrorismo. As acusações foram, depois, retiradas.
O presidente da Catalunha, Quim Torra, assim como diversos líderes catalães tem cada vez mais defendido a desobediência como forma de lidar com a Espanha, e o governo espanhol tem visto as ações catalãs como uma ameaça.
A repressão na Catalunha irá apenas aumentar, assim como aconteceu por anos no País Basco. O franquismo segue vivo e forte na Espanha e está longe de ser representado apenas abertamente pelo VOX (e de forma mais velada por PP e Ciudadanos), mas é parte essencial do que é a Espanha.
Terrorista é a Espanha.
Informações:
O Aqui Catalunha está cobrindo os acontecimentos no Facebook: https://www.facebook.com/aquicatalunha/
Vilaweb: New raid by Spain’s military police against Catalan activists
Catalan News: 9 pro-independence activists arrested and accused of planning violent actions
El Nacional: La fiscalía acusa a los detenidos de “grupo terrorista secesionista catalán”