Bolsonaro e Witzel foram eleitos exatamente pelo que sempre pregaram

Raphael Tsavkko Garcia
3 min readAug 19, 2019

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Porque ddesgraça pouca é bobagem

O Wilson Gomes comentou esses dias algo que é central no Bolsonarismo: Ele discursa praqueles 30% que o apoiam incondicionalmente. Não adianta sair espalhando as merdas que ele fala, a violência que ele prega porque essa galera se alimenta disso. Não é tentando mostrar como Bolsonaro é horroroso que vamos conseguir mudar a cabeça de quem votou nele EXATAMENTE porque ele é horroroso.

Aliás, é até discutível se existe forma de conquistar esses 30%. Mas sobram outros 70%, e desses muitos também se alimentam do discurso de ódio, ainda que por razões diferentes de mero sadismo e desumanidade.

Witzel, no Rio, foi eleito pra fazer exatamente o que está fazendo. Vai sempre ter uma galera apoiando porque escolheu essas trevas e nosso discurso contrário só atinge quem já é contra anyway.

Criminalidade está caindo, foda-se que não é por obra do Bolsonaro, o discurso é o que importa — ninguém sabe porque, mas sem dúvida não é por obra do Bolsonarismo que não fez absolutamente nada. Existem conjecturas, mas poucas certezas.

O cara que está tomando enquadrada de traficante está cagando e andando se a PM matou 100. Tem nego que toma enquadrada da PM e acha que a PM está certa porque ele fez algo de errado (mesmo sem saber), olhou torto, etc, é uma síndrome pesada. Se rola guerra, nego justifica que é parte do processo. Quem vive na linha do tiro quer paz, mas pra alcançar essa paz vem muito chumbo grosso.

Galera sente falta de autoridade. Moleque de 15 pega um fuzil e manda na parada, galera mais velha não apita, pais não apitam, tem uma quebra de hierarquia social e surge um bando de brutamontes dizendo que vai restaurar a porra toda e ganha voto e apoio. Disciplina está em falta e muita gente quer discipina, autoridade, mesmo autoritarismo, porque é melhor que caos.

Milícia era “melhor” até outro dia. Não tinha tráfico em área de milícia. Agora complicou. O ponto é que galera quer ter regras, viver sob essas regras e ponto. Não precisam ser bonitas, basta que façam sentido. Quando tem guerra não tem regras, tráfico muitas vezes não tinha, o traficante não ia com tua cara e te matava (nisso o PCC inovou com os tribunais, tinha e tem mais controle), a milícia “respeitava” mais, tinha regras mais claras. A Okaida tem regras claras.

Galera aceita viver mesmo sob regras merdas desde que sejam claras. A violencia pra manter isso é detalhe — justifica-se que quem morre desrespeitou as regras, paciência, é a vida.

O Estado agora chegou, milícia virou tráfico, não tem mais função de apaziguar, não é mais local, da comunidade — disputa território. A milícia também virou Estado. Witzel é violento, mas deixa claro o que pode ou não pode, o que vai fazer e deixar de fazer, então é recebido de braços abertos. Duterte é o mesmo fenômeno. Bolsonaro é isso aí.

“Liberdade” é papo de classe média. O cara que tá ferrado na linha do tiro quer é ter regras claras pra seguir e sair vivo. Isso é algo que a esquerda ainda não conseguiu compreender.

Não é bonito, não é fofo, é uma merda, mas o discurso naive “vamos todos respeitar os direitos humanos” não cola em quem tá pagando imposto pra traficante num dia, pra miliciano no outro, mas tem medo de sair de casa e não voltar — ou ser morto dentro de casa mesmo.

Claro que o discurso de respeito aos direitos humanos é fundamental, é a única coisa que realmente pode nos salvar da completa barbárie, mas a FORMA como é colocado, expressado pela esquerda hoje, não atinge ninguém.

Estamos num poço bem fundo (ou “posso” bem fundo, pra homenagear a famiglia Bolsonaro), e nossas lanternas não estão dando pra ver nem a cara de quem está do nosso lado.

Originalmente postado no Facebook.

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Raphael Tsavkko Garcia
Raphael Tsavkko Garcia

Written by Raphael Tsavkko Garcia

Journalist, PhD in Human Rights (University of Deusto). MA in Communication Sciences, BA in International Relations. www.tsavkko.com.br

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