Após 33 anos de democracia, o Brasil encontra-se em uma encruzilhada
Eu nasci no ano em que terminou a ditadura, há 33 anos. Não esperava que fosse ver apologistas da ditadura novamente no poder (ou com grandes chances de chegar lá).
Essa situação tem um grande culpado, que é Lula e o PT (que apenas recebe ordens dele). Com sua intransigência (em se colocar como arauto da esquerda, na defesa do Lula e na negação da corrupção) e sua capacidade de alimentar o ódio, deu origem ao monstro que estamos vendo.
Campanha suja contra Marina, gritos de GOLPE o tempo todo, corrupção endêmica com direito a defesa orgulhosa desses feitos, centrais de fake news, ataques à todos que se recusam a se alinhar, VAI PM gritado em alto e bom som contra a esquerda nas ruas, desmobilização e aparelhamento de movimentos sociais e sindicatos, aliança ampla com a pior direita brasileira (boa parte dela, hoje, com Bolsonaro)…
Nenhuma dessas táticas do medo, de intimidação e chantagem são incomuns à pior direita — mas dessa eu obviamente não esperava ou espero nada.
Mas o PT não (se) afundou sozinho, a esquerda pendurada no PT e reproduzindo suas narrativas canalhas de GOLPE, Lula livre e etc enterraram de vez a esquerda. Bolsonaro soube se aproveitar. Agora enfrentaremos as consequências. A esquerda se descolou da realidade, adotou uma agenda identitária radical que facilitou uma resposta conservadora e uma escalada nas guerras culturais.
Já o PSDB se suicidou ao bancar o Temer, ao manter abrigo ao Aécio… O Alckmin entrou numa campanha de salto alto, sem apresentar nada novo e muita gente da direita que posava de democrata embarcou no antipetismo fácil do Bolsonaro sem buscar alternativas democráticas.
Vendo aqui pela Europa, o establishment se esgotou ou está em vias de se esgotar, abrindo espaço para a extrema-direita. Centro-direita e centro-esquerda são, em grande medida, indistinguíveis. Muitas vezes se aliam e no poder atuam de forma muito parecida. As diferenças muitas vezes não passam de discurso.
Os grandes problemas vistos pelos europeus são desemprego/crise e imigração/terrorismo e nesse aspecto o establishment tem falhado miseravelmente em dar respostas.
A extrema esquerda defende que tem que abrir tudo e amar o próximo, não consegue se conectar mais com o eleitor, se distanciou, considera que qualquer coisa diferente disso é “fascismo” e não cabe diálogo.
Sobra pra extrema-direita com pose de anti-establishment.
No Brasil as coisas parecem ter um fundo semelhante, trocando imigração/terrorismo por segurança no geral. PSDB e PT se revezaram por mais de 20 anos e chegamos numa crise social e econômica gigantesca. A extrema-esquerda adota um discurso de “queremos paz social” e “vamos conversar” (o que parte da população entende como passar a mão na cabeça de bandido), ao passo que permanece umbilicalmente ligada ao PT, o que a exclui como alternativa.
O PT é uma coisa no discurso e outra no poder.
As pessoas filtram informações. Da mesma forma que na religião, pinçam o que interessa e fingem não ver o que não interessa, logo Bolsonaro surge como uma posição aceitável anti-establishment (pese ele ser apoiado amplamente pelo establishment), com propostas duras e soluções (se são ruins, factíveis, é outro ponto). Conquista o eleitor apresentando algo que o centro não foi capaz de oferecer no poder e que a extrema-esquerda não é capaz sequer de começar a pensar.
O movimento é global e preocupante…