Após 33 anos de democracia, o Brasil encontra-se em uma encruzilhada

Raphael Tsavkko Garcia
3 min readOct 8, 2018

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Eu nasci no ano em que terminou a ditadura, há 33 anos. Não esperava que fosse ver apologistas da ditadura novamente no poder (ou com grandes chances de chegar lá).

Essa situação tem um grande culpado, que é Lula e o PT (que apenas recebe ordens dele). Com sua intransigência (em se colocar como arauto da esquerda, na defesa do Lula e na negação da corrupção) e sua capacidade de alimentar o ódio, deu origem ao monstro que estamos vendo.

Campanha suja contra Marina, gritos de GOLPE o tempo todo, corrupção endêmica com direito a defesa orgulhosa desses feitos, centrais de fake news, ataques à todos que se recusam a se alinhar, VAI PM gritado em alto e bom som contra a esquerda nas ruas, desmobilização e aparelhamento de movimentos sociais e sindicatos, aliança ampla com a pior direita brasileira (boa parte dela, hoje, com Bolsonaro)…

Nenhuma dessas táticas do medo, de intimidação e chantagem são incomuns à pior direita — mas dessa eu obviamente não esperava ou espero nada.

Mas o PT não (se) afundou sozinho, a esquerda pendurada no PT e reproduzindo suas narrativas canalhas de GOLPE, Lula livre e etc enterraram de vez a esquerda. Bolsonaro soube se aproveitar. Agora enfrentaremos as consequências. A esquerda se descolou da realidade, adotou uma agenda identitária radical que facilitou uma resposta conservadora e uma escalada nas guerras culturais.

Já o PSDB se suicidou ao bancar o Temer, ao manter abrigo ao Aécio… O Alckmin entrou numa campanha de salto alto, sem apresentar nada novo e muita gente da direita que posava de democrata embarcou no antipetismo fácil do Bolsonaro sem buscar alternativas democráticas.

Vendo aqui pela Europa, o establishment se esgotou ou está em vias de se esgotar, abrindo espaço para a extrema-direita. Centro-direita e centro-esquerda são, em grande medida, indistinguíveis. Muitas vezes se aliam e no poder atuam de forma muito parecida. As diferenças muitas vezes não passam de discurso.

Os grandes problemas vistos pelos europeus são desemprego/crise e imigração/terrorismo e nesse aspecto o establishment tem falhado miseravelmente em dar respostas.

A extrema esquerda defende que tem que abrir tudo e amar o próximo, não consegue se conectar mais com o eleitor, se distanciou, considera que qualquer coisa diferente disso é “fascismo” e não cabe diálogo.

Sobra pra extrema-direita com pose de anti-establishment.

No Brasil as coisas parecem ter um fundo semelhante, trocando imigração/terrorismo por segurança no geral. PSDB e PT se revezaram por mais de 20 anos e chegamos numa crise social e econômica gigantesca. A extrema-esquerda adota um discurso de “queremos paz social” e “vamos conversar” (o que parte da população entende como passar a mão na cabeça de bandido), ao passo que permanece umbilicalmente ligada ao PT, o que a exclui como alternativa.

O PT é uma coisa no discurso e outra no poder.

As pessoas filtram informações. Da mesma forma que na religião, pinçam o que interessa e fingem não ver o que não interessa, logo Bolsonaro surge como uma posição aceitável anti-establishment (pese ele ser apoiado amplamente pelo establishment), com propostas duras e soluções (se são ruins, factíveis, é outro ponto). Conquista o eleitor apresentando algo que o centro não foi capaz de oferecer no poder e que a extrema-esquerda não é capaz sequer de começar a pensar.

O movimento é global e preocupante…

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Raphael Tsavkko Garcia
Raphael Tsavkko Garcia

Written by Raphael Tsavkko Garcia

Journalist, PhD in Human Rights (University of Deusto). MA in Communication Sciences, BA in International Relations. www.tsavkko.com.br

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