A esquerda se tornou o sistema
Eu fico abismado como amplos setores da esquerda alinhados ao petismo não são apenas incapazes de assumir a responsabilidade pelo que fizeram/apoiaram/desculparam/justificaram (corrupção, violência intimidação, aliança com toda a direita, de fundamentalistas e vangélicos a bandidos do naipe do Maluf), como de culpar os outros pelos seus atos, derrotas e fracassos.
Junho sempre surge como o grande culpado, nessa tentativa mezzo cristã mezzo boçal de tirar o corpo fora (ou o proverbial cu da reta).
Junho foi o estopim que fez estourar a desconfiança na política tradicional, ou ao menos nos políticos tradicionais e métodos de sempre. Ocupações em escolas vieram logo depois reforçando novas formas de protesto e ação política.
Junho era eminentemente de esquerda, progressista, anti-sistema. Mas em dado momento a esquerda preferiu recuar, voltar ao seu castelinho e não ocupar o espaço. E não existe vácuo na política.
Aliás, há quase dois anos eu já falava da questão do vácuo na política (e de sua inexistência ou incapacidade de se sustentar):
A esquerda que foi às ruas em 2013 foi ou massacrada (com apoio e conivência do PT) ou cooptada (pelas narrativas do PT, como a narrativa do GOLPE). O que sobrou não tinha massa crítica suficiente para ir além das críticas contundentes ao processo de cooptação pós-violência. As ruas ficaram livres para serem ocupadas por outros grupos, e daí tivemos o MBL e outros.
A questão é que o Bozo soube capitalizar a imagem de anti-sistema enquanto a esquerda se pendurou no saco do PT, reforçando a imagem de ser o sistema (e o pior dele).
A esquerda foi, depois, sacrificada pelo discurso de GOLPE, feita refém (ou vítima de síndrome de Estocolmo), incapaz de raciocinar e de se separar do petismo. Tornou-se a mesma coisa e, com isso, foi incapaz de capitalizar no sentimento dominante.
Ganhou o que se vendeu melhor como anti-sistema (pese não zê-lo).