Ódio e fake news: Bolsonaro aperfeiçoou o petismo?

Raphael Tsavkko Garcia
5 min readOct 15, 2018

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O PT vive numa bolha. Aparelhou e desmobilizou tanto movimentos sociais e sindicatos pra esses apenas repetirem o que o partido quer(ia) que perderam o contato com a rua, com o povo, com o trabalhador. Movimentos e sindicatos viraram meras câmaras de eco do petismo, descoladas do real. Não foi o povo que se afastou do PT, foi o PT que se afastou do povo quando não conseguiu silenciá-lo pregando sua “inclusão via consumo” e neutralizando todos os canais possíveis de manifestação — seja neutralizando sindicatos, movimentos, seja massacrando manifestações, como em Junho ou os protestos contra a Copa.

O PT ainda abraçou (e pariu) a turma identitária, que são ainda mais descolados da realidade, mas são instrumento fundamental no controle de movimentos sociais e imposição de pautas que fazem com que percam mais tempo se digladiando por picuinhas do que efetivamente fazendo luta social.

Na internet outra bolha, a tal mídia progressista, blogs progressistas que são a mesma caixa de ressonância com pitadas pesadas de fake news para manter a militância animada enquanto rola aquela pregação pesada contra a mídia tradicional — que o Bolsonarismo adotou com maestria (via MBL).

Esquerda nas ruas? Louvadores de Painho Lula na internet manipulando e espalhando fake news.

Pouco se fala sobre o papel nefasto que Brasil 171, DCM, Cafezinho, Nassif, PHA e outros tiveram no espalhamento de fake news. São verdadeiras fábricas de hoax e fake news, de notícias enviesadas, suspeitas e falsas — em geral aquilo que presta é chupado, sem permissão, da mídia tradicional e de blogs e perfis sérios. Esses “veículos” incitam a turba contra movimentos sociais que não seguem as ordens do PT, incitam violência contra adversários e perseguem desafetos.

O que Miriam Leitão tem enfrentado hoje, os ataques que sofre dos bolsominions, não é novidade, antes deles eram os lulaminions. O Jornal Nacional era chamado pelos petistas de “Goebbles News”, adversários eram indistintamente pintados como fascistas ou nazistas — para, uma vez aliados, deixarem de sê-lo ao ponto dos fanáticos até negarem que um dia os atacaram.

Bolsonaro surfa na onda daquilo que foi criado pelo PT, aperfeiçoado pelo MBL e que os Bolsominions transformaram em arte. O ódio pela Globo, o ódio pela mídia em geral (exceto aquela selecionada que repete as ordens), a desumanização do adversário, a perseguição a desafetos… Tudo isso o PT fazia antes dos Bolsominions adotarem — e aparentemente superarem o mestre.

O PT hoje não poderia apresentar algo que convencesse ninguém a trocar Bolsonaro por Haddad. O PT não entendeu 2013, não entendeu como o povo viu e rejeitou o mensalão, como o povo defende a lava-jato e repudia corrupção, passou anos chamando todos de fascistas, golpistas, paneleiros, apenas por não serem seus adoradores. Atacaram Marina, Gabeira, Cristovam Buarque e quantos outros… O PT enquanto força de esquerda morreu (segue, claro, como partido forte, mas esvaziado em sua ideologia e capacidade de mobilização efetiva).

Um amigo compilou uma pequena lista (e não faltam exemplos no Tumblr e no Facebook do Necrogovernismo):

Lembram da fábula do menino e o lobo?

2006:

Tucanos têm preconceito contra pobres e nordestinos, diz petista (Lula)

2010:

As estratégias do fascismo e a candidatura de Serra

Serra produz campanha nazi-fascista

2014:

Direita fascista sai do armário para defender Aécio

Quem empurrou Lula a chamar Aécio e o PSDB de nazistas?

O comportamento fascista dos eleitores de Aécio

Isso sem falar nos ataques contra Marina, na campanha mais suja da história.

O PT de descolou completamente da realidade, se isolou, se colocou como única opção decente, séria e viável enquanto todo o resto se limita a ser massa de manobra ou fascista (os que não aceitam ser massa de manobra são obviamente fascistas). Os que não se submetem tem que ser massacrados, vide Marina, vide a puxada no tapete do Ciro, e mesmo que se submetam ainda podem sofrer as consequências para se manter na linha, vide o PSOL.

Oras, apenas observem a imagem que abre esse texto, o que uma das lideranças do PT tem a dizer sobre a eleição atual (o mesmo que afirmou que o segundo turno com Bolsonaro e Haddad era ”cenário ideal”). Se não há mais bolha e descolamento da realidade que isso então…

O PT se fechou achando que Lula bastaria. Não bastou. Ao fim dessa eleição o PT irá, derrotado, culpar a direita, quem não se mobilizou, os fascistas, os isentões, a mãe joana, o papa, enfim, todos menos o verdadeiro culpado: o próprio PT.

Enfim, impedir o Bolsonaro de ser eleito é uma missão difícil, especialmente quando a alternativa é o PT, mas é a tarefa que temos colocada hoje.

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Raphael Tsavkko Garcia
Raphael Tsavkko Garcia

Written by Raphael Tsavkko Garcia

Journalist, PhD in Human Rights (University of Deusto). MA in Communication Sciences, BA in International Relations. www.tsavkko.com.br

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